As
perseguições do Império Romano aos cristãos durante o segundo e terceiro
séculos eram cruéis. Mesmo quando havia paz, a perseguição podia recomeçar a
qualquer momento, cada vez mais violenta
O
governo imperial se incomodava com o crescimento e com os “mistérios” que
envolviam os cristãos, que se negavam a participar das cerimônias religiosas
regulares realizadas pelos romanos, bem como aceitar que o imperador fosse
adorado como um deus. Este foi o principal motivo das perseguições. Mas, também
existiam outros motivos, como por exemplo:
Religiosos: As reuniões dos cristãos despertavam suspeitas, por isso
foram acusados de praticarem atos imorais e criminosos durante a celebração da
Ceia do Senhor. Eles se reuniam antes do nascer do sol, ou então à noite, quase
sempre em cavernas ou nas catacumbas subterrâneas. Eram acusados de incesto, de
canibalismo e de praticas desumanas, a ponto de serem acusados de infanticídio
em adoração ao seu Deus. A saudação com o ósculo santo (beijo) foi transformado
em forma de conduta imoral.
Políticos: Os cristãos rejeitavam a escravidão e a adoração ao
imperador. A adoração ao imperador era considerada prova de lealdade. Havia
estátuas de imperadores reinantes nos lugares mais visíveis para o povo adorar.
Só que os cristãos não faziam essa adoração. Pelo fato de cantarem hinos e
louvores e adorarem a “outro Rei, um tal Jesus”, eram considerados pelo povo como
desleais e conspiradores de uma revolução. Dentro da igreja misturavam escravos
com o povo. E o que era considerado mais absurdo, o escravo podia tornar-se
líder da igreja. Não havia dentro da igreja a divisão: senhor e escravo, os
dois eram tratados de forma igual.
Primeiras perseguições
A primeira tomada de posição do Estado Romano contra os Cristãos remonta ao
imperador Cláudio (41-54 d.C). Os historiadores Suetônio e Dione Cássio referem
que Cláudio mandou expulsar os judeus porque estavam continuamente em litígio
entre si por causa de um certo Chrestos. «Estaríamos diante das primeiras
reações provocadas pela mensagem cristã na comunidade de Roma», comenta Karl
Baus.
O historiador Gaio Suetônio Tranquilo (70-140 c.), funcionário imperial de alto
nível sob Trajano e Adriano, intelectual e conselheiro do imperador,
justificará a decisão e as sucessivas intervenções do Estado contra os Cristãos
definindo-os como «superstição nova e maléfica»; palavras muito pesadas. Como
superstição, o cristianismo é relacionado com as mágicas. Para os romanos ela é
aquele conjunto de práticas irracionais que magos e feiticeiros de
personalidade sinistra usam para enganar a gente ignorante, sem educação
filosófica.
Magia é o irracional contra o racional, o conhecimento vulgar contra o
conhecimento filosófico. A acusação de magia (como também de loucura) é uma
arma com que o Estado Romano timbra e submete ao controle os novos e duvidosos
componentes da sociedade como o cristianismo.
Com a palavra maléfica (= portadora de males) é encorajada a obtusa suspeita do
povinho que imagina essa novidade (como qualquer novidade) impregnada dos
delitos mais inomináveis e, portanto, causa dos males que de vez em quando se
desencadeiam inexplicavelmente, da peste aos aluviões, da carestia à invasão
dos bárbaros.
Corpo aberto mas etnia fechada e desconfiada
O Império Romano é (e manifestar-se-á especialmente nas perseguições contra os
Cristãos) como um grande campo aberto, disposto a assimilar qualquer novo povo
que abandone a própria identidade, mas também uma etnia fechada e desconfiada.
Com a palavra etnia, grupo étnico (éthnos em grego) indicamos um agregado
social que se distingue pela língua e cultura, desconfiada em relação a
qualquer outra etnia.
Roma, com sua organização social de livres com todos os direitos e escravos sem
qualquer direito, de patrícios ricos e de plebeus miseráveis, de centro
explorador e periferia explorada, vive persuadida de ter realizado o sonho de
Alexandre Magno: fazer a unidade da humanidade, fazer de cada homem livre um
cidadão do mundo, e do império uma "assembléia universal" (oikuméne)
que coincide com a "civilização humana".
Quem quiser viver fora dela, manter a própria identidade para não se confundir
com ela, é excluído da civilização humana. Roma tinha um grande temor dos
"estrangeiros", dos "diferentes" que poderiam pôr em
discussão a sua segurança. E assim como estabeleceu a "concórdia
universal" com a feroz eficiência de suas legiões, entende mantê-la também
a golpes de espada, crucifixões, condenações aos trabalhos forçados, exílios.
Numa palavra: Roma usa a "limpeza étnica" como método para tutelar a
própria tranqüila segurança de ser "o mundo civil".
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