As
argumentações de Marco Aurélio (121-180), Galeno (129-200), Luciano, Pelegrino
Proteo e, especialmente, Celso (que escreveram suas obras na segunda metade do
século segundo) podem-se condensar assim:
«A 'salvação' da insignificatividade da vida, da desordem dos acontecimentos,
do aniquilamento da morte, da dor, só pode ser encontrada numa 'sabedoria
filosófica' por parte de uma elite de raros intelectuais. Trata-se de uma
loucura o fato de os cristãos colocarem esta 'salvação' na 'fé' num homem
crucificado (como os escravos) na Palestina (uma província marginal) e
declarado ressuscitado.
«O fato de os cristãos crerem na mensagem do crucificado, que se dirige
preferencialmente aos marginalizados e pobres (à 'poeira humana') e que pregue
a fraternidade universal (numa sociedade bem escalonada em pirâmide e
considerada como 'ordem natural') é outra loucura intolerável, que incomoda,
que revira tudo. É preciso eliminar os Cristãos como transgressores da
civilização humana».
A crítica dos intelectuais anticristãos volta-se contra a própria idéia de
"revelação do alto", não baseada numa "sabedoria
filosófica"; contra as Escrituras cristãs, que têm contradições
históricas, textuais, lógicas; contra os dogmas "irracionais"; contra
o fato do LOGOS de Deus fazer-se carne (Evangelho de João) e submeter-se à
morte dos escravos; contra a moral cristã (fidelidade no matrimônio,
honestidade, respeito pelos outros, ajuda recíproca), que pode ser alcançada
por um pequeno grupo de filósofos, mas não certamente pela massa
intelectualmente pobre.
Toda a doutrina cristã, para esses intelectuais, é loucura, como é loucura a
pretensão da ressurreição (ou seja, da prevalência da vida sobre a morte), como
é loucura a preferência de Deus pelos humildes e a fraternidade universal. É
tudo irracional.
O filósofo grego Celso, em seu Discurso sobre a verdade, escreve: «Recolhendo
gente ignorante, que pertence à mais vil população, os cristãos desprezam as
honras e a púrpura, e chegam até mesmo a chamar-se indistintamente de irmãos e
irmãs… O objeto de sua veneração é um homem punido com o último dos suplícios
e, do lenho funesto da cruz, eles fazem um altar, como convém a depravados e
criminosos».
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